quinta-feira, 24 de março de 2011

Reportagem sobre Racismo

Símbolos contra racismo, Adauto e Grafite lamentam novos casos

'Acho assustador saber que as pessoas ainda tratem um ser humano com diferenças por causa da cor da pele', diz ex-atacante do São Paulo" 

Por Fábio Lima Rio de Janeiro

Adauto, em ação pelo Zilina, da Eslováquia:
brasileiro sofreu na Europa (Foto: AFP)
     Em menos de uma semana, dois casos de racismo contra brasileiros foram registrados na Europa. No último sábado, o lateral-esquerdo Marcelo, do Real Madrid, foi chamado de macaco pelos torcedores do rival Atlético de Madri durante a vitória merengue por 2 a 1. Na segunda-feira, na Rússia, um torcedor do Zenit, de São Petersburgo, "ofereceu" uma banana ao experiente lateral-esquerdo Roberto Carlos. Dois símbolos da luta contra o racismo no futebol lamentaram as novas ofensas no estádio: o atacante Grafite, do Wolfsburg, que em 2005 denunciou o argentino Desábato em uma partida entre São Paulo e Quilmes; e o atacante Adauto, que está no Grêmio Prudente e chegou a ser protagonista de campanhas da República Tcheca após ser vítima do preconceito no país.

     - Acho lamentável e assustador saber que as pessoas, numa era de muita informação e avanço, ainda tratem um ser humano com diferenças por causa da cor da pele, sem contar também preconceitos políticos, religiosos e muitos outros. Essas pessoas se sentem tão superiores, por motivos que só eles entendem, mas são dignas de pena, pois quem não respeita um ser humano só pode ser digno dos sentimentos mais tristes que existem - disse Grafite, por e-mail, ao GLOBOESPORTE.COM.

Grafite e Desábato no momento que antecedeu o histórico caso de racismo (Foto: Diário de São Paulo)
     O atacante Adauto, do Grêmio Prudente, foi sofreu com racismo na Eslováquia e na República Tcheca, país em que chegou a protagonizar uma campanha do governo local contra o preconceito. Acabou virando um ícone na Europa e conhecedor de inúmeros casos. Mesmo consciente de que os russos têm um histórico de atitudes racistas, o jogador se mostrou surpreso com a ação contra Roberto Carlos.
     - No Leste Europeu é normal que aconteça, não sei como não o avisaram. Jamais imaginei que ocorreria com ele por toda a credibilidade que tem no mundo inteiro. No Zenit não é novidade e, neste caso, o Roberto é um atleta que tem mais visibilidade e isso aconteceu por que o Roberto Carlos foi jogar lá. No entanto, deveriam ter mais respeito com ele - explicou em entrevista por telefone.

Experiente, lateral Roberto Carlos não se abalou com ousadia do torcedor do Zenit (Foto: Divulgação)
     Para Grafite, o racismo é uma atitude contrária à essência do futebol e cita Pelé para lembrar que a união entre as raças é fundamental para o sucesso do esporte.
     - O maior jogador de todos os tempos é negro. Com isso já podemos responder essa questão. E, negros ou brancos, futebol é união e mistura das raças. O futebol, em si, não seria nada se não houvesse justamente esta integração entre todos os povos - concluiu.
Adauto vê o caso de Marcelo de maneira diferente: o sucesso do brasileiro e a vitória do Real Madrid acabaram aumentando a ira dos torcedores rivais.
     - Ele estava arrebentando no jogo. Aquilo foi um mecanismo de defesa, é um medo que as pessoas têm. O Marcelo estava fazendo a diferença e eles encontraram esse modo para agredi-lo - avaliou.

Globoesporte.com

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