quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Projeto Literafro

Projeto desenvolvido na Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende em Uberlândia- MG, este teve como objetivo sensibilizar os alunos quanto aos valores defendidos pelos povos africanos e afro descendentes, conscientizando-os de que “a sociedade é formada por pessoas pertencentes a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e histórias próprias, igualmente valiosas que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história” (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana). Com duração de abril até julho, o projeto foi ministrado com alunos do ensino fundamental de 7° anos, cada turma foi levada até a Biblioteca da escola, (biblioteca afro/PIBID) onde selecionaram livros de autores africanos e afro brasileiros, relacionados à cultura africana.
O projeto cumpriu com o que se esperava, pois além de colaborar para a melhora da leitura, interpretação de texto e escrita, este, foi fundamental pra ampliar os horizontes dos alunos acerca da temática étnico-racial.

 

Oficina de auto identificação


A oficina teve duração de fevereiro até junho de 2013, na Escola Municipal Dr. Gladsen Guerra de Rezende, esta atividade teve inicio após observarmos a dificuldade de auto identificação de muitos alunos em se reconhecerem enquanto negros, vislumbramos a necessidade de abarcar em um projeto os motivos dessa não aceitação étnica, para isso, cada bolsista foi para sala de aula dos diferentes turnos, com um instrumental e materiais para colorir. Pedíamos para que os alunos desenhassem a forma como se viam no espelho sem maiores explicações; foi apenas enfatizado a necessidade de colorir suas características como cabelo, cor dos olhos e da pele. A intenção em não dar maiores detalhes para realizarem a atividade foi justamente não influenciá-los quanto à intencionalidade do projeto, que era averiguar como os mesmos se definiam enquanto raça/cor. Essa atividade foi aplicada para toda a escola nos 3 turnos (manhã, tarde, noite).Conseguimos pós atividade, mensurar a quantidade de aceitação/ rejeição identitária dos alunos, junto a uma tabulação de dados efetuada e embasarmos as futuras atividades.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

“A coisa tá Preta!”

A coisa tá Preta! 

O projeto “A coisa tá Preta!” Mostra de filmes africanos e de suas diásporas é viabilizado pelo Programa Municipal de Incentivo a Cultura da Secretária de Cultura da Prefeitura de Uberlândia, através do Fundo Municipal de Cultura e foi apresentado na E.M. Dr. Gladsen de Rezende no dia 29 de agosto para 8° e 9° período do EJA.
O projeto “A coisa tá Preta!” Mostra de filmes africanos e de suas diásporas tem  como objetivo refletir acerca da expressão “A coisa tá Preta”. Você já se perguntou o porquê algumas pessoas utilizam esse jargão apenas quando coisas ruins acontecem? Será que “A coisa tá Preta” somente em momentos ruins?
Diante dessas perguntas, o projeto “A coisa tá Preta!” exibirá filmes e documentários que abordam a questão do negro(a) e de suas culturas, visando à divulgação e valorização das diversas manifestações culturais de matrizes africanas, assim como, o incentivo à reflexão acerca da situação da população negra.
É fato que até conquistarmos uma sociedade plenamente igualitária, temos um longo caminho a percorrer, sendo que suas vias devem ser pavimentadas por valores, atitudes e práticas sociais que expressem o respeito e a valorização das culturas de matrizes africanas. Daí a importância de as pessoas refletirem sobre os filmes desta Mostra, visto que, o projeto intenciona que nesse espaço tempo haja desconstruções, reconstruções e construções de ideias e certezas, acerca da temática afro racial.
Mais do que assistir a filmes, trata-se de um convite ao debate, à reflexão, para construirmos juntos um país que diga não ao racismo e valorize a diversidade racial do país.
A Mostra “A coisa tá Preta!” se faz com o intuito de popularizar e descentralizar as exibições dos filmes, alcançando uma parcela da população brasileira que historicamente não tem acesso às salas de cinema. Neste sentido, a Mostra acontecerá no período de março a outubro de 2013 em escolas das regiões periféricas, geográfica e social, da cidade de Uberlândia, pois, acreditamos que essa prática pode alcançar patamares além de uma prática isolada.
No mês de novembro de 2013, por ser o mês da Consciência Negra, finalizaremos o projeto com uma semana de exibição e debates de filmes/documentários, sendo um total de 10 exibições. Em todas as sessões haverá a participação de estudantes das escolas públicas de Uberlândia, uma vez que, o projeto viabilizará transporte para que esses participem da Mostra.
Esperamos que todos os participantes da Mostra reflitam sobre os temas abordados nos filmes. Que incorporem essas reflexões às suas práticas cotidianas ao longo de suas vidas e sejam, desta maneira, promotores e defensores dos valores mais caros a Diversidade Étnico-Racial, contribuindo com a construção de um país menos racista e mais igualitário. 

João Gabriel Nascimento e Camila Soueneta Nascimento Nganga

domingo, 4 de agosto de 2013

Quilombolismo


QUILOMBISMO:
um conceito científico emergente do processo histórico-cultural
da população afro-brasileira
Uma proposta do autor aos seus irmãos afrodescendentes no Brasil e nas Américas, apresentada em trabalho apresentado ao 2º Congresso de Cultura Negra das Américas, Panamá, 1980.
...uma verdadeira revolução racial democrática, em nossa era, só pode dar-se sob uma condição: o negro e o mulato precisam torna-se o antibranco, para encarnarem o mais puro radicalismo democrático e mostrar aos brancos o verdadeiro sentido da revolução democrática da personalidade, da sociedade e da cultura.
- Florestan Fernandes
O Negro no Mundo dos Brancos

Memória: a antigüidade do saber negro-africano

Numa passagem anterior do texto deste livro fizemos menção à urgente necessidade do negro brasileiro em recuperar a sua memória. Esta tem sido agredida sistematicamente pela estrutura de poder e dominação há quase 500 anos. Semelhante fato tem acontecido com a memória do negro-africano, vítima, quando não de graves distorções, da mais crassa negação do seu passado histórico.
A memória dos afro-brasileiros, muito ao contrário do que afirmam aqueles historiadores convencionais de visão curta e superficial entendimento, não se inicia com o tráfico escravo e nem nos primórdios da escravidão dos africanos, no século XV. Em nosso país, a elite dominante sempre desenvolveu esforços para evitar ou impedir que o negro brasileiro, após a chamada abolição, pudesse assumir suas raízes étnicas, históricas e culturais, desta forma seccionando-o do seu tronco familial africano. A não ser em função do recente interesse do expansionismo industrial, o Brasil como norma tradicional ignorou o continente africano. Voltou suas costas à África logo que não conseguiu mais burlar a proibição do comércio da carne africana imposta pela Inglaterra aí por volta de 1850. A imigração maciça de europeus ocorreu daí a mais alguns anos, e as classes dominantes enfatizam sua intenção e ação no sentido de arrancar da mente e do coração dos descendentes escravos a imagem da África como um a lembrança positiva de nação, de pátria, de terra nativa; nunca em nosso sistema educativo se ensinou qualquer disciplina que revelasse algum apreço ou respeito às culturas, artes, línguas e religiões de origem africana. E o contato físico do afro-brasileiro com os seus irmãos no continente e na diáspora sempre foi impedido ou dificultado, entre outros obstáculos, pela carência de meios econômicos que permitissem ao negro se locomover e viajar fora do país. Porém, nenhum desses empecilhos teve o poder de obliterar completamente do nosso espírito e da nossa lembrança a presença viva da Mãe África. As diversas estratégias e os expedientes que se utilizam contra a memória do negro-africano têm sofrido, ultimamente, profunda erosão e irreparável descrédito. Este trabalho é fruto da dedicação e competência de alguns africanos, a um tempo estudiosos, pesquisadores, cientistas, filósofos, e criadores de literatura e arte, pessoas do continente africano e da diáspora africana. Cheikh Anta Diop, do Senegal; Chancellor Williams, dos Estados Unidos; Ivan Van Sertima e George M. James, da Guiana; Yosef Ben-Jochannam, da Etiópia; Theophile Obenga, do Congo-Brazzaville; Wole Soyinka e Wande Abimbola, da Nigéria, figuram entre os muitos que estão ativos, produzindo obras fundamentais para a África contemporânea e futura. Em campos diferentes, e sob perspectivas diversas, o esforço desses eminentes irmãos africanos se canaliza rumo a exorcizar as falsidades, distorções e negações que há tanto tempo se vêm tecendo com o intuito de velar ou apagar a memória do saber, do conhecimento científico e filosófico, e das realizações dos povos de origem negro-africana. A memória do negro brasileiro é parte e partícipe nesse esforço de reconstrução de um passado ao qual todos os afro-brasileiros estão ligados. Ter um passado é ter uma conseqüente responsabilidade nos destinos e no futuro da nação negro-africana, mesmo enquanto preservando a nossa condição de edificadores deste país e de cidadãos genuínos do Brasil.
A obra fundamental de Cheikh Anta Diop, principalmente seu livro The African Origin of Civilization (versão em inglês de seleções de Nations Nègres et Culture e Antériorité des Civilisations Nègres, originalmente publicados em francês), apresenta uma confrontação radical e um desafio irrespondível à arrogância intelectual, desonestidade científica e carência ética do mundo acadêmico ocidental ao tratar os povos, civilizações e culturas produzidas pela África. Utilizando-se dos recursos científicos euro-ocidentais - Diop é químico, diretor do laboratório de radiocarbono do IFAN, em Dacar, além de egiptólogo, historiador e lingüista - este sábio está reconstruindo a significação e os valores da antigas culturas e civilizações erigidas pelos negro-africanos, as quais por longo tempo têm permanecido obnubiladas pelas manipulações, mentiras, distorções e roubos. São os bens de cultura e civilização e de artes criados pelos nossos antepassados no Egito antigo, os quais eram negros e não um povo de origem branco (ou vermelho escuro) conforme os cientistas ocidentais do século XIX proclamavam com ênfase tão mentirosa quanto interessada. Vejamos como a esse respeito se manifesta Diop:
O fruto moral da sua civilização está para ser contado entre os bens do mundo negro. Ao invés de se apresentar à história como um devedor insolvente, este mundo negro é o próprio iniciador da civilização "ocidental" ostentada hoje diante dos nossos olhos. Matemática pitagórica, a teoria dos quatro elementos de Thales de Mileto, materialismo epicureano, idealismo platônico, judaísmo, islamismo, e a ciência moderna, estão enraizados na cosmogonia e na ciência egípcias. Só temos que meditar sobre Osíris, o deus-redentor, que se sacrifica, morre e é ressuscitado, uma figura essencialmente identificável a Cristo (1974: XIV).
As afirmações de Diop se baseiam em rigorosa pesquisa, em rigoroso exame e rigorosa conclusão, não deixando margem para dúvidas ou discussões. E isto longe de pretender aquele dogmatismo que sempre caracteriza as certezas "científicas" do mundo ocidental. O que Diop fez foi simplesmente derruir as estruturas supostamente definitivas do conhecimento "universal" no que respeita à antigüidade egípcia e grega. Gostem ou não, os ocidentais têm de tragar verdades como esta: "...quatro séculos antes da publicação de A mentalidade primitiva de Lévy-Bruhl, a África negra muçulmana comentava a lógica formal de Aristóteles (que ele plagiou do Egito negro) e demonstrava-se especialista em dialética" (Diop, 1963: 212).
E isto, não esqueçamos, acontecia quase 500 anos antes que ao menos tivessem nascido Hegel ou Karl Marx...
Diop revolve todo o processo da mistificação de um Egito negro que se tornou branco por artes da magia européia dos egiptólogos. Após a campanha militar de Bonaparte no Egito, em 1799, e depois que os hieróglifos da pedra Rosetta foram decifrados por Champollion, o jovem, em 1822, os egiptólogos se desarticularam atônitos diante da grandiosidade das descobertas reveladas.

Eles geralmente a reconheceram como a mais antiga civilização, a que tinha engendrado todas as outras. Mas com o imperialismo, sendo o que é, tornou-se crescentemente "inadmissível" continuar aceitando a teoria evidente até então - de um Egito negro. O nascimento da egiptologia foi assim marcado pela necessidade de destruir a memória de um Egito negro, a qualquer custo, em todas as mentes. Daí em diante, o denominador comum de todas as teses dos egiptólogos, sua relação íntima e profunda afinidade, pode ser caracterizado como uma tentativa desesperada de refutar essa opinião [do Egito ser negro]. Quase todos os egiptólogos enfatizaram sua falsidade como uma questão fechada (1974: 45).
Desta posição intelectual em diante, como procederam os egiptólogos? Como negar a realidade egípcia, essencialmente negra, a qual não apresentava contradições científicas realmente confiáveis ou válidas? Não possuindo argumentos ou razões para refutar a verdade, exposta pelos antigos que viram o Egito de perto, alguns egiptólogos preferiram guardar silêncio sobre a questão; outros, mais obsessivos em seu irracionalismo, optaram pelo caminho da rejeição dogmática, infundada e indignada. De um modo geral, todos "se lamentavam que um povo tão normal como os egípcios antigos pudessem ter feito tão grave erro e desta forma criar tantas dificuldades e delicados problemas para os especialistas modernos" (Diop, 1974: 45).
A pretensiosidade eurocentrista nesse episódio se expõe de corpo inteiro. Lembra o exemplo de um típico escritor do "progressismo" brasileiro, o racista Monteiro Lobato, quando acusa o negro-africano de haver provocado graves problemas para o Brasil com a miscigenação, a tão celebrada mistura de sangues negro e branco... Mas voltemos aos egiptologistas: eles prosseguiram obstinadamente o vão esforço de provar "cientificamente" uma origem branca para a antiga civilização do Egito negro.
Quanto a Diop, compassivo e humano diante do feroz dogmatismo dos egiptólogos brancos, revelou bastante paciência e gentileza explicando-lhes que não alegava superioridade racial ou qualquer gênio especificamente negro naquela constatação puramente científica de que a civilização do Egito antigo fora erigida por um povo negro. O sucesso, explicou-lhe Diop, resultou de fatores históricos, de condições mesológicas - clima, recursos naturais, e assim por diante - somados a outros elementos não-rácicos. Tanto assim foi que, mesmo tendo-se expandido por toda a África negra, do centro e do oeste do continente, a civilização egípcia, ao embate de outras influências e situação histórica diversa, entrou num processo de desintegração e franco retrocesso. O importante é sabermos alguns dos fatores que contribuíram para a edificação da civilização egípcia, entre os quais Diop enumera estes: resultado de acidente geográfico que condicionou o desenvolvimento político-social dos povos que viviam às margens do vale do Nilo; as inundações que forçavam providências coletivas de defesa e sobrevivência, situação que favorecia a unidade e excluía o egoísmo individual ou pessoal. Nesse contexto surgiu a necessidade de uma autoridade central coordenadora da vida e das atividades em comum. A invenção da geometria nasceu da necessidade da divisão geográfica, e todos os demais avanços foram obtidos no esforço de atender uma carência requerida pela sociedade.
Um pormenor interessa particularmente à memória do negro brasileiro: aquele onde Diop menciona as relações do antigo Egito com a África negra, de modo específico com os iorubás. Parece que tais relações foram tão íntimas a ponto de se poder "considerar como um fato histórico a possessão conjunta do mesmo habitat primitivo pelos iorubás e egípcios". Diop levanta a hipótese de que a latinização de Horus, filhos de Osíris e Ísis, resultou no apelativo Orixá. Seguindo essa pista de estudo comparativo, ao nível da lingüística e outras disciplinas, Diop cita J. Olumide Lucas em The religion of the Yorubas, o qual traça os laços egípcios do seu povo iorubá, concluindo que tudo leva à verificação do seguinte: a) uma similaridade ou identidade de linguagem; b) uma similaridade ou identidade de crenças religiosas; c) uma similaridade ou identidade de idéias e práticas religiosas; d) uma sobrevivência de costumes, lugares, nomes de pessoas, objetos, práticas, e assim por diante (Diop, 1974: 184; Lucas, 1978: 18).
Meu objetivo aqui é o de apenas chamar a atenção para esta significativa dimensão da antigüidade da memória afro-brasileira. Este é um assunto extenso e complexo, cuja seriedade requer e merece pesquisa e reflexão aprofundadas, no contexto de uma revisão crítica das definições e dos julgamentos pejorativos que há séculos pesam sobre os povos negro-africanos.










Espírito Santo recebe projeto de incentivo a cultura afro nas escolas.

O ensino da história e da cultura afro-brasileira na rede pública e particular de ensino no Estado merece ser abordado com mais frequência durante o ano. São constatações dos próprios educadores, que acreditam que o tema é ainda pouco debatido no ambiente escolar, apesar da Lei 10.639/2003 exigi a inclusão desses pontos na grade curricular. Para reverter esse quadro, foi lançado no Estado, na tarde desta segunda-feira (29), o projeto A Cor da Cultura, que busca a valorização social e cultural. 
O Espírito Santo é o 14º estado a receber A Cor da Cultura, desde que foi criado em 2004. A coordenação do projeto espera capacitar cerca de 540 educadores capixabas, entre eles professores e técnicos que atuam nas escolas. 
Serão realizadas oficinas de formação voltadas para a demonstração da metodologia do Projeto, cursos e seminários. “Tudo que faz a diversidade cultural avançar na questão do respeito e no resgate de valores vem a somar”, acredita Maria de Fátima Cossetti Barboza, diretora de uma escola localizada na região de Terra Vermelha, em Vila Velha. Para a ela o ensino da cultura afro-brasileira deve ser ampliado. 
 De acordo com a coordenadora geral do Projeto, Ana Paula Brandão, o programa produz conteúdos audiovisuais e pedagógicos com a história da população negra para auxiliar na formação de profissionais de várias disciplinas. “Esse projeto perpassa por todas as disciplinas. Na verdade, o conteúdo do étnico racial perpassa por todas as disciplinas e todas as series. 
Dentro do kit pedagógico temos material para atender a educação infantil quanto ensino médio e educação de jovens e adultos”, explicou a coordenadora geral do Projeto, Ana Paula Brandão. O lançamento aconteceu na tarde desta segunda (29). Mas, a programação se estenderá até agosto. 
De 30 de julho a 2 de agosto serão treinados os profissionais da Grande Vitória. E de 5 e 9 nos pólos de Cachoeiro de Itapemirim e Colatina. Nos encontros, os profissionais vão receber orientações sobre como usar o material dos kits pedagógicos em sala de aula e como multiplicar o conteúdo didático. Ainda este mês, o projeto será lançado também no Maranhão, Goiás, Pará e Rio Grande do Sul.Já foram distribuídos 2.044 kits em sete estados. Até o momento, 1661 escolas públicas e centros de formação de professores foram contemplados. 


Para este pólo participaram formadores do Rio de Janeiro - RJ e Uberlândia- MG. Entre está equipe contamos com duas bolsistas PIBID da escola Gladsen Guerra de Rezende (Maria Laura e Pollyanna), professores e graduados da UFU (Universidade Federal de Uberlândia). 
A Cor da Cultura é uma parceria entre Petrobras, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN), Ministério da Educação, por meio da SECADI, Ministério da Cultura, por meio da Fundação Palmares, Fundação Roberto Marinho, via Canal Futura, e a TV Globo. Para mais informações, educadores e público em geral podem acessar o site www.acordacultura.org.br, que funciona como um ambiente de gestão, relacionamento e espaço para retirada de dúvidas sobre a temática. 


Fonte:http://www.eshoje.jor.br/_conteudo/2013/07/entretenimento/arte_e_cultura/7544-espirito-santo-recebe-projeto-de-incentivo-a-cultura-afro-nas-escolas.html

terça-feira, 30 de julho de 2013

Vale a pena conferir!

Arte e história no Museu Afro Brasil

Museu Afro Brasil
Painel do núcleo “História e Memória”
Em uma das pontas da marquise do Parque Ibirapuera, um prédio de linhas arrojadas e inconfundíveis, traçadas por Oscar Niemeyer, encontra-se uma rica narrativa da história do negro no Brasil e no mundo.
Lá, o negro aparece como sujeito e objeto, como vê e como é visto, num movimento que possibilita a reflexão sobre a negritude de cada um.  É o Museu Afro Brasil, com 11 mil m² e cerca de 4.500 obras expostas.
O artista plástico Emanoel Araujo é o diretor, curador e proprietário de boa parte do acervo. Ele já organizou exposições com a temática afro no mundo inteiro. Uma de suas maiores intenções era ter, em São Paulo, um espaço artístico permanente e aberto a todos para discutir a afrobrasilidade. “Os negros não têm hábito de freqüentar museus porque nós vivemos numa sociedade racista, sexista e com outros tipos de preconceitos, que afastam as pessoas da arte, da cultura. E esse nosso projeto é uma forma de aproximar o museu do seu público”, afirma o curador.
O Museu Afro Brasil existe desde 2004, quando foi criado, por decreto, pela ex-prefeita Marta Suplicy. Como não houve a elaboração de um Projeto de Lei na Câmara Municipal, aconteceu um desentendimento: o museu existia, embora não estivesse regulamentado. Isso quer dizer, por exemplo, que não havia orçamento destinado ao museu pela prefeitura.  Por isso, tornou-se uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), em agosto de 2005, e deixou de ser administrado pela Secretaria Municipal de Cultura. Segundo Ana Lúcia Lopes, coordenadora do núcleo de educação do museu, o maior desafio da gestão é conseguir verba.  “Fizemos um projeto para trazer a população para cá, com um ônibus que partia de diversos pontos de cultura da cidade. Trouxemos cerca de 8 mil pessoas, mas não conseguimos continuar por falta de dinheiro”, explica ela.

Metáforas

As exposições temporárias do Museu Afro Brasil abrem espaço para artistas do mundo inteiro com temas que, por vezes, não se relacionam diretamente com a negritude, mas, de alguma forma, dialogam com o museu. Já o acervo permanente divide-se em seis núcleos: “África”, “Trabalho e escravidão”, “O Sagrado e o Profano”, “Religiosidade Afro-Brasileira”, “História e memória” e “Arte”. A disposição do acervo dentro do museu foi concebida de forma proposital, construindo uma narrativa histórica. “Não existe uma seqüência lógica, mas uma simultaneidade de relações. Todos os núcleos têm interfaces entre eles”, explica Ana Lúcia.
Museu Afro Brasil
Obras do núcleo “O Sagrado e o Profano”
Os educadores que coordenam as visitas ao museu têm que tentar reverter, em 75 minutos – tempo de duração das visitas guiadas –, preconceitos culturais arraigados há anos pela sociedade. “Muitas escolas se recusam a vir aqui ou pedem para pular a parte de religiosidade”, revela Juliana Ribeiro, historiadora e educadora do museu, referindo-se às reações que presencia quando alguns estudantes e professores passam pelas vestimentas e adornos usados no candomblé, que fazem parte do acervo. “Temos que lidar com o preconceito, mesmo em crianças muito pequenas e até em idosos. O papel do educador é aproveitar para desconstruir essas coisas que estão na cabeça das pessoas.”
De acordo com ela, é muito difícil os visitantes entenderem o fio condutor do Afro Brasil sem a presença do educador. “Ao contrário de muitos outros museus, ele não é de fácil compreensão. Muitas pessoas saem daqui dizendo que acharam muito confuso, que não entenderam a proposta”, conta.  A historiadora destaca a riqueza de metáforas na concepção artística do curador para dispor as obras como causadora da dificuldade de compreensão. Mas, mesmo sem mediação, ela afirma que dificilmente alguém sai de lá sem se sensibilizar, de alguma forma, com as obras e o resgate histórico ali presentes.

Biblioteca afro-brasileira

O museu abriga a biblioteca Carolina Maria de Jesus, com 6 mil títulos, entre livros, teses, revistas e artigos, em sua maioria, voltados para a temática do negro. “Tem arte africana e brasileira, cultura brasileira, muitas coisas sobre o tráfico de pessoas, a escravidão, a abolição e religiosidade”, define a bibliotecária Romilda Silva. O acervo não pode ser emprestado, mas a consulta é livre durante o horário de funcionamento do museu.

Serviço – Museu Afro Brasil

  • Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº - Pavilhão Manoel da Nóbrega
    Parque do Ibirapuera, Portão 10
  • Horário de funcionamento: das 10h às 17h (o museu não abre às segundas-feiras)
  • Telefones: 5579-8542 / 5579-7716 / 5579-6399

Outros Museus

O Museu Afro Brasil é um dos maiores dedicados ao tema da afrobrasilidade, mas não é o único. Existem, pelo menos, outros cinco no Brasil:
  • Museu da Abolição, em Recife
    Inaugurado em 1957, foi fechado na década de 1990 e reinstalado em 2006. Está vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN);
  • Museu Afro-Brasileiro, em Salvador
    Existe desde 1982, foi primeiramente organizado pelo fotógrafo e antropólogo Pierre Verger. Pertence à Universidade Federal da Bahia;
  • Museu do Homem do Nordeste, em Recife
    Baseado no conceito de museu regional, surgiu em 1979 da união dos acervos do antigo Museu do Açúcar, do Museu de Antropologia e do Museu de Arte Popular. É administrado pela Fundação Joaquim Nabuco;
  • Museu do Negro, em Campinas
    Inaugurado em 2002, completou cinco anos em 15 de agosto deste ano. É vinculado à prefeitura da cidade;
  • Museu do Homem de Sergipe, em Aracaju
    Surgiu em 1996 como uma iniciativa da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O canto dos santos!

Músicos baianos se inspiram em ritmos, versos e toques do candomblé para lançar novos discos e shows


O  canto dos santos / Credito: Jamile Amine -

O canto dos santos / Credito: Jamile Amine -

Embora de gerações e estilos diferentes, os músicos baianos Gabi Guedes e Tiganá Santana vêm recriando, de maneira bem original, o “universo ancestral” das influências afro-brasileiras. Sem perderem de vista a reverência aos seus orixás, preparam-se para lançar nos próximos meses shows e discos mostrando suas experiências musicais imersas no candomblé.
Depois de trabalhar com muitos músicos no Brasil e no exterior, incluindo uma temporada de nove anos com a banda de Jimmy Cliff, Gabi, de 51 anos, agora divide a percussão na Orkestra Rumpilezz – comandada pelo maestro Letieres Leite desde 2006 – com um projeto mais autoral, o Pradarrum. A ideia é promover shows eworkshops, mesclando os ritmos tradicionais do candomblé aos da salsa, do jazz, do funk e do afrobeat. No final de março aconteceram os primeiros eventos em Salvador e outras cidades baianas. O próximo passo é a finalização do disco. “Quero mostrar essas possibilidades de fusão, o lado musical da religião, mas sem agredir ou revelar seus fundamentos”, assinala Gabi Guedes, alabê, ou tocador de atabaque, que no início dos anos 1970 já integrava a “orquestra” do famoso candomblé de Mãe Menininha do Gantois.
Filho de uma das fundadoras do movimento negro na Bahia e especialista nas histórias da África, Tiganá Santana, de 29 anos, também se mostra bem zeloso com os segredos do candomblé. Ele ainda critica a “ferina carnavalização” de seus cânticos nas ruas e nos palcos da Bahia. “Se os afoxés da primeira metade do século XX seguiam uma direção a partir de uma inscrição religiosa, ou mesmo quilombola, pessoas e agremiações mais contemporâneas parecem trilhar um caminho com outras prioridades e compromissos”, aponta. De suas experiências existenciais e religiosas (no terreiro Tumbenci, é o responsável pelos cânticos e toques), nasceram composições em diferentes línguas africanas, como o kicongo, o kibumbo e o iorubá. E melodias com “sofisticação e elegância afro-brasileira”, na avaliação do percussionista Naná Vasconcelos. Tudo isso, que já estava em Maçalê (1999)seu primeiro disco, poderá ser conferido no CD The invention of colour, prestes a chegar ao mercado brasileiro, e na turnê “Águas e Florestas – A música de Tiganá Santana” que, a partir de julho, passará por São Paulo e Bahia.
Essas aproximações não são novidade na Bahia. Nos anos 1970, os caminhos já haviam sido abertos por Mateus Aleluia (ainda em atividade) e seu grupo Tincoãs. Em tempos mais recentes, Letieres Leite e sua orquestra estão à frente do movimento. Talvez a originalidade da nova produção esteja na maior proximidade com o mundo das histórias, dos terreiros e dos ritmos africanos. “Por isso soa mais original e novo, porque são elementos da África, da Bahia, históricos, mas que não são decalques do que já existiu”, aposta o jornalista e editor Luciano Matos, que há mais de dez anos cobre o cenário musical baiano.

Escrito por: Juliana Barreto Farias

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Desde a chegada dos pioneiros africanos, em 1619, os
negros da Am�rica enfrentam uma contenda laboriosa em busca
de direitos iguais, passando pela escravid�o e pela segrega��o
Mercado de escravos na capital: Lincoln via o comércio de negros de seu gabinete no Capitólio enquanto ainda era congressista

Agora sem uma de suas figuras mais atuantes, o movimento negro nos Estados Unidos seguirá sua dolorosa cruzada para estreitar a fenda racial que se abriu paulatinamente ao longo de mais de 300 anos de História, desde que os primeiros africanos chegaram aos Estados Unidos, em 1619. O Ato dos Direitos Civis, aprovado em 1964, atendeu a muitas das reivindicações das minorias americanas. É evidente, porém, que mais de três séculos de discriminação não poderiam ser reparados por um único documento. Por isso, os esforços pela alteração não apenas das leis, como também da mentalidade e da cultura da América, precisarão ser mantidos por uma nova geração de líderes, de maneira que oportunidades iguais se apresentem tanto a negros como a brancos.
Brancos na frente, negros no fundo: ônibus segregado em Atlanta, em abril de 1956
Em 1619, os pioneiros africanos desembarcaram na Virgínia como servos por contrato - status semelhante ao dos trabalhadores ingleses, que também empenharam anos de trabalho para cobrir os custos da passagem à América. Pouco tempo depois, entretanto, a escravidão, ainda que não regulamentada, já se verificava em muitos estados do país. A cultura do tabaco no Sul dos EUA se alimentou do tráfico negreiro para compor sua mão-de-obra por décadas a fio; como resultado, o censo americano de 1860 registrava uma população de 4 milhões de escravos nos quinze estados em que a escravidão era legal. Nesses estados, a população total era de 12 milhões de pessoas. Cerca de 500.000 negros viviam livres no país naquele tempo.
As vozes abolicionistas, que timidamente apareceram nos EUA no século XVIII, ganharam força com a eleição à presidência de Abraham Lincoln, opositor declarado da escravidão, em 1860. Convencidos de que seu modo de vida estava ameaçado, os estados do Sul se separaram da União e detonaram a Guerra Civil Americana. Em 1863, durante o conflito, Lincoln assinou a Proclamação da Emancipação, libertando os escravos dos estados confederados e proibindo a escravidão em todo o país. Mas era apenas o começo da jornada.
Medo nas ruas: Ku Klux Klan no Alabama
Segregação institucionalizada - No fim do século XIX, os estados do Sul, afetados economicamente com o fim da escravidão, promulgaram as chamadas leis Jim Crow, uma série de determinações para legitimar a discriminação racial e dificultar o acesso dos negros ao voto. Legislações semelhantes apareceram por todo o país, e a segregação passou a ser uma realidade nos Estados Unidos. Prédios e transporte públicos, escolas, restaurantes, cinemas e até cadeias tinham áreas separadas para brancos e negros - a dos negros, via de regra, em estados deploráveis. Casamentos entre brancos e negros ou seu descendentes eram proibidos em diversos estados, para evitar a miscigenação. Na Carolina do Norte, nem mesmo os livros da biblioteca poderiam ser consultados por negros e brancos - se o primeiro a retirá-lo fosse um branco, apenas os brancos teriam acesso ao volume.
Atleta pioneiro: Jackie Robinson em 1947
Entre os anos de 1916 e 1930, uma onda de migração negra do sul para o norte, meio-oeste e oeste do país - regiões onde a tolerância e as oportunidades eram maiores - deu início ao movimento pela igualdade de direitos. Entretanto, apesar de alguns pioneiros terem ultrapassado a barreira racial (como o atleta Jackie Robinson, craque do beisebol, que em 1947 tornou-se o primeiro jogador negro nas ligas maiores da modalidade preferida dos americanos, colocando um ponto final na segregação que durou 60 anos), apenas a partir da década passada é que os resultados coletivos começaram a aparecer. O boicote de Montgomery e a marcha em Washington, ambos marcados pela não-violência e pela tentativa de integração racial pregada por Martin Luther King, tiveram grande repercussão - e, mais importante ainda, resultados práticos. Contudo, alguns líderes e grupos, notadamente Malcolm X (1925-1965) e o recém-formado Black Power, advogam pela ruptura total entre a América negra e a branca, utilizando-se da violência se for preciso. A grande incógnita é o caminho que será tomado pelos herdeiros de King - se a rota da não-violência trilhada pelo reverendo ou uma estrada muito mais sinuosa, manchada de sangue.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

"Uma revolução". A lei n. 10.639/3 e o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas. Entrevista especial com Lúcia Regina Pereira

“Não basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e seus posicionamentos”, declara a secretária do Grupo de Trabalho Negros: História, Cultura e Sociedade  ANPUH/RS.
Confira a entrevista.
Foto: http://cinemahistoriaeducacao.wordpress.com
Uma reivindicação do Movimento Social Negro, a Lei n. 10.639/3, que inclui no currículo oficial das escolas a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira, completa dez anos. Apesar de alguns professores ainda serem resistentes à legislação, Lúcia Regina Pereira ressalta que “diferente de dez anos atrás, mais pessoas, escolas, e educadores têm ciência, se não consciência, dessa outra parcela da população que precisa se ver na história e se ver de forma positiva”.
Para ela, a instituição desta lei “prevê uma revolução na educação do país ao mostrar que o Brasil foi construído a partir de vários grupos étnicos: o grupo indígena, o grupo negro e o grupo europeu, e que essas histórias todas têm que vir à tona para entendermos como funciona a sociedade brasileira”. Em entrevista à IHU On-Line por telefone, Lúcia assinala que “muitas escolas ainda pensam que fazer uma atividade no dia 20 de novembro contempla a questão da lei, mas a proposta não é essa”.
E acrescenta: “A proposta é que se integre no currículo propriamente dito e no currículo culto da escola, nas próprias relações interpessoais, para que as pessoas tenham consciência do tratamento. Então, esta questão tem de deixar de ser uma coisa pontual e festiva. A cultura tem que ser tratada como uma questão educacional, como uma questão de organização social. A cultura, neste momento, é extremamente importante, e ela tem que perpassar todo o processo educacional”.
Lúcia Regina Pereira é mestre e doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS. Leciona nas redes estadual e municipal de ensino. Também é integrante do Grupo de Pesquisa Africanidades, Ideologia e Cotidiano - AIC (PPGH/PUCRS), coordenadora técnica de Maria Mulher  Organização de Mulheres Negras, Secretária do GT Negros: História, Cultura e Sociedade  ANPUH/RS. Ela estará na Unisinos na noite de hoje, 23-04-2013, ministrando a palestra Os 10 anos da lei n. 10.639/3: Avanços e perspectivas, às 19h30, no Auditório Central.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como e em que contexto foi sancionada a lei n. 10639/3?
Foto: http://educador.brasilescola.com
Lúcia Regina Pereira – Esta lei é resultado de um processo muito longo de trabalho e de reivindicação das organizações negras do final do século XIX e início do século XX. Em meados do século XX, essa discussão foi proposta pela instituição da Frente Negra Brasileira, que atuou de forma mais incisiva politicamente. E, nos anos 1970, o movimento negro atuou politicamente e concretizou essa reivindicação sobre a questão negra da educação no sistema de ensino. Esse processo vem se desenvolvendo desde o período colonial com as Irmandades do Rosário, que sempre tiveram na pauta das suas ações a preocupação também com a educação.
IHU On-Line – Como a lei é abordada nas escolas, entre professores e alunos?
Lúcia Regina Pereira – Num primeiro momento, houve resistência. Ouvia colegas dizendo que não iriam cumprir a lei porque era uma coisa vinda de cima. Na realidade, há um desconhecimento do processo histórico da instituição da lei. Ela não veio de cima, não foi a presidência da República que propôs; foi uma reivindicação do Movimento Social Negro. As pessoas ainda ficam com “o pé atrás”, porque acham que é preciso ter leis para outros segmentos discriminados da sociedade, mas não é assim que funciona. A instituição da lei prevê uma revolução na educação do país para mostrar que o Brasil foi construído a partir de vários grupos étnicos: o grupo indígena, o grupo negro e o grupo europeu, e que essas histórias todas têm que vir à tona para entendermos como funciona nossa sociedade.
Ainda hoje há aqueles que são resistentes à lei. Porém, o lado bom é que, diferente de dez anos atrás, mais pessoas, escolas e educadores têm ciência, se não consciência, dessa outra parcela da população, a qual precisa se ver na história e se ver de forma positiva.
IHU On-Line – Como a história e cultura afro-brasileira eram abordadas na educação nacional antes da instituição da lei n. 10639/3, e o que mudou no ensino após a instituição da lei?
Lúcia Regina Pereira – A história era vista com muitos estereótipos. Primeiro, quando os negros apareciam na dita história, apareciam como acessórios. A história africana foi ligada à história das grandes navegações. Então, a história do negro aparecia a partir do colonialismo. Nas imagens pejorativas, o negro era visto como escravo, como o mau trabalhador e como uma pessoa que não tinha condições devido à falta de civilidade, de trabalhar e progredir. Embora existam restrições, ainda hoje algumas pessoas não aceitam a revisão histórica e veem a sociedade de uma forma eurocêntrica e acham que as coisas devem continuar do jeito que estão.
Por outro lado, existem pessoas imbuídas desta ideia de ver o Brasil, de fato, na sua multiculturalidade e, nessa, a população negra – que é 53% da população – tem um papel fundamental naquilo de bom, que é a preservação da cultura, as relações interpessoais, a questão da religião, a questão da culinária etc.
A lei entrou para o calendário oficial da escola e, mal ou bem, elas são obrigadas a olhar para este tema. Algumas estão trabalhando durante todo o ano, outras trabalham de forma pontual. Então, muito mais pessoas, tanto professores do Censo quanto alunos, acabam tendo um contato, mínimo que seja, com a cultura afro-brasileira.
IHU On-Line – Quais os avanços e perspectivas dez anos após a instituição da lei n. 10639/3?
Lúcia Regina Pereira – Eu diria que a perspectiva é de avanço, até porque ela é uma lei revolucionária. Eu gosto muito de dizer isso, visto que ela muda todo o sistema de ensino do país, desde a educação infantil até o ensino superior. Em termos de mudança social, as pessoas serão obrigadas a mudar seus pensamentos, suas visões simbólicas do mundo e das relações sociais no Brasil. Então, isso é revolucionário. Não se trata apenas de incluir conteúdos na sala de aula, mas também de pensar o fazer individual, o fazer de cada pessoa no dia a dia. Como eu trato aquele que é diferente? Como eu trato as questões étnico-raciais na sala de aula? Além da questão do conteúdo propriamente dito, as pessoas terão que olhar para seu comportamento e ver até que ponto – ou até onde – vão as limitações em aceitar o outro como produtor de história, como produtor de cultura, que é uma cultura relevante. E, se não fosse essa cultura, com certeza o Brasil seria diferente.
IHU On-Line – Quais são hoje as principais reivindicações do movimento afrodescendente?
Lúcia Regina Pereira – Em matéria de publicação, diferente de dez anos atrás, existe um bom número de publicações relacionadas à questão do negro. Esse é um ponto extremamente positivo. Outro ponto é que a lei se efetive de fato, porque, dada a resistência da cultura brasileira, alguns municípios de tradição germânica ou outra qualquer pensam que não é importante falar de negros na sua localidade. Estamos aprendendo a história do país, e na história do país precisa estar incluída a de todos os segmentos. É importante fazer com que isso realmente se efetive. Não basta promulgar uma lei; precisa mudar a mente das pessoas e os seus posicionamentos.
Muitas escolas ainda pensam que fazer uma atividade no dia 20 de novembro contempla a questão da lei, mas a proposta não é essa. A proposta é que se integre no currículo propriamente dito e no currículo culto da escola, nas próprias relações interpessoais, para que as pessoas tenham consciência do tratamento. Então, esta questão tem de deixar de ser uma coisa pontual e festiva. A cultura tem que ser tratada como uma questão educacional, como uma questão de organização social. A cultura, neste momento, é extremamente importante, e ela tem que perpassar todo o processo educacional.
Os professores e professoras que estão se formando precisam ter conhecimento dessa lei, para quando forem exercer a sua profissão saberem como trabalhar a temática dentro da sala de aula. Então, é uma via de duas mãos. A questão da pesquisa também é fundamental. Por muito tempo se pesquisou a população negra da sociedade como se ela fosse um apêndice invisível, e hoje nós temos pesquisas direcionadas que vão reverter em prol dessa população que tanto foi excluída na sociedade brasileira.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Em nome da razão - Um filme sobre os porões da loucura (1979).



A afamada limpeza social ocorrida em Barbacena-MG

Este é mais um capítulo da nossa história que talvez poucos/as conheçam. O maior manicômio do Brasil, localizado em Barbacena-MG, foi inaugurado em 1903 e ainda permanece aberto, mas as barbáries vivenciadas nele aconteceram de 1930 a 1980. Deram-lhe o apelido de Colônia, uma analogia aos campos de concentração nazista da 2ª Guerra Mundial. O hospital psiquiátrico tinha por finalidade tratar os/as doentes que apresentassem distúrbios mentais, mas ao contrário do que foi proposto, eram jogados ali todos os indivíduos indesejados socialmente: gays, mendigos, alcoólatras, prostitutas e negros/as. Além da violação de todos os direitos humanos, ocorreram naquele local mais de 60 mil mortes, mortes que tornaram-se muito lucrativas, os corpos eram vendidos para universidades ou incinerados em meio aos internos para a retirada e comercialização dos ossos. O vídeo a seguir, é dos anos 70 e denuncia as atrocidades presenciadas no manicômio. Até hoje ninguém foi punido.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O NEGRO NA TV BRASILEIRA, ONDE ESTÁ?

Zezé Motta encenando uma escrava no tronco.

Com esta pergunta começo o meu artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas de levantar algumas questões sobre a inserção do negro na televisão brasileira. Estamos no século XXI e ao ligarmos a TV, temos a sensação que muito pouco mudou.
Encontramos uma participação maior do negro na televisão, é fato, porém continua a vinculação do estereótipo do negro que samba, gosta de pagode, é malandro ou exerce profissões subalternas e quase imperceptíveis. Muitos negros não gostam de samba, alguns nem sabem sambar, curtem outros estilos, mas esses nunca são representados na televisão. A sociedade mudou e ainda não conseguimos ver o reflexo disso na telinha.  Não existe o que os mais modernos chamam de “democracia racial”, embora muitos projetos levantem a bandeira. Somos mais de cem milhões de brasileiros, representamos mais de 50% da população e o instrumento mais popular, que é a televisão, não nos representa.
Muitas pesquisas mostram que isso é o reflexo da sociedade, poderíamos citar a ausência do negro em outros espaços socialmente representativos. De acordo com uma pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, os negros ocupam 25,6% dos cargos de supervisão, 13,2% dos cargos de gerência e 5,3% dos cargos executivos nas empresas brasileiras, embora, segundo o IBGE, 50,7% dos brasileiros sejam pretos e pardos (categorias usadas pelo próprio IBGE).
UM POUCO DE HISTÓRIA
Para destacar um exemplo positivo, de um país que tem 12% da população negra e sua representatividade na mídia é muito grande, é nos Estados Unidos. De acordo, com João Batista de Jesus Félix, no texto O “Negro”, na Televisão Brasileira, “nos Estados Unidos, os “negros”, conquistaram o direito de fazer filmes estrelados por eles mesmos. Produções que permitiram o surgimento e a consolidação de muitos atores “negros” como Denzel Washington, Halle Berry, Samuel Jackson, Morgan Freeman etc”.
Cito os Estados Unidos, porque lá também teve escravidão, e na década de 60, quando os negros no Brasil estavam sendo escanteados na televisão, lá se iniciavam as discussões que resultaram nas Políticas de Ações Afirmativas (que chamam Movimento de Liberdade Civis), que tinham como meta principal patrocinar a inserção dos “negros”, “latinos” e “mulheres” e outros setores marginalizados, em posição de destaque social,  resultado das lutas desenvolvidas pelos negros contra o racismo que dominava o sul daquele país.
Nesse mesmo período grandes líderes como Malcolm X, Martin Luther King e Robert Kennedy foram assassinados e a partir desses acontecimentos trágicos, os Estados Unidos passou a assumir uma posição sociopolítica de igualar as condições sociais e econômicas, principalmente dos negros. No Brasil, na mesma época, vivíamos uma Ditadura cruel, que só queria calar a boca do povo.
Exatamente com tudo isso acontecendo, surgiram os primeiros seriados americanos com negros protagonizando, o primeiro foi “Destemidos”, que estreou o ator Bill Cosby que teve tanto destaque e ganhando, como primeiro negro, a ganhar mais de 3 Emy como ator dramático, o mais importante TV Americana. No mesmo período veio “Julia”, uma comédia, com a atriz Diahann Carrol, que era uma enfermeira negra e também grande destaque. Outros seriados foram surgindo nas décadas seguintes,  até os mais famosos como  “The Jackson Five”, “The Cosby Show”, e as mais famosas aqui e que  conhecemos bem,  são exibidas até hoje no SBT como: “Arnold”, “Um Maluco no Pedaço”,  “Eu, a patroa e as crianças” e as “Visões da Raven”.
No mesmo período no Brasil, tivemos alguns “destaques” positivos e outros bem negativos,  com a utilização do “Black face”,  atores brancos pintados para representarem negros. O maior fiasco desse gênero na década de 60, foi  “A Cabana do Pai Tomás”, da Globo 1969, em que o ator Sergio Cardoso, galã da época, pintado para representar um negro, ainda colocava rolhas. O protesto contra a série foi liderado pelo diretor e ator Plínio Marcos, “branco”, no que seria caracterizado “como a marginalização do ator negro na televisão”.
Antes desse episódio medonho, um  megassucesso  foi “O Direito de Nascer”, da TV Tupi em 1965, provocando verdadeira histeria popular. Dolores, uma das personagens mais importantes da trama, a empregada-confidente, Maria Helena, criava o protagonista, Albertinho. No geral, entretanto, os atores negros ficavam emparedados em funções pouco importantes. No mesmo, ano a TV Tupi exibiu a novela “A Cor da Sua Pele” com a atriz negra Yolanda Braga como protagonista de enorme sucesso. Infelizmente a emissora faliu, e passamos a ter apenas a rede Globo como principal produtora de novelas.
Em 1976, a “Escrava Isaura”, uma história que foi sucesso mundial, trazia uma escrava como protagonista, mas representada por uma atriz branca, Lucélia Santos que atua com centenas de atores negros. Foi traduzida em mais de 50 idiomas diferentes. De acordo com alguns críticos de TV, o autor Gilberto Braga, deu destaque para vários atores na trama.
Com tanta coisa acontecendo surge o período dos casais inter-raciais como na novela “Corpo a Corpo”, em 1986, em que Zezé Motta fazia par romântico com o ator e diretor Marcos Paulo, falecido recentemente, o que despertou em muitos telespectadores fortes reações discriminadoras. O ator chegou a declarar que sua secretaria eletrônica, ficava lotada de “recados racistas”.  Vinte anos depois, a relação inter-racial se repetiu com a novela “Na Cor do Pecado”, protagonizados pela Taís Araújo e Reinaldo Gianecchini. Depois surgiu a primeira família classe média negra, em “A Próxima Vítima”, o que “causou” uma certa estranheza também.
Não podemos esquecer, de “Xica da Silva”, da extinta TV Manchete, em que revelou para a dramaturgia a atriz Taís Araujo, sem pretensões filosóficas a novela, mostrava uma relação de poder não muito convencional da protagonista com os demais da trama.
Sérgio Cardoso (Tomás) e Ruth de Souza (Cloé) em A Cabana do Pai Tomás


NO SÉCULO XXI: A PARTIR DOS ANOS 2000
Estamos em uma “nova era”, em que há espaço para tudo. Muitas novelas passaram a ter alguns atores negros e podemos destacar como “Viver a Vida”, Taís Araújo era a protagonista, Lado a Lado, com Camila Pitanga e Lázaro Ramos como destaque, a minissérie controvérsia “Subúrbia” – todas da Rede Globo, e “Reis do Carnaval”, da TV a cabo, criada por Cao Hamburger.
Mas como já citei, não temos ainda uma produção de qualidade produzida para o público negro sem tratá-lo como subalterno, sem falar de preconceito, mesmo em novelas em que alguns atores negros são protagonistas percebemos uma “certa discriminação velada”, sempre reforçando estereótipos como muitos programas de humor adoram mostrar, que não vale a pena citá-los.
Outra coisa, que considero horrível: só somos chamados para dar entrevistas em datas comemorativas como 13 de Maio e o Dia da Consciência Negra, fora disso, não existimos para outras pautas que são relevantes para a sociedade, temos sempre que falar que sofremos preconceito,  somos pobres, que temos mais dificuldade e etc. O que já sabemos, mas mesmo com tudo isso, encontramos pessoas que estão em profissões de destaque, que podem mostrar ações positivas, para que a nova geração se orgulhe e valorize seu cabelo negro, sua beleza, que erga a cabeça e se mostre igual a todos.
Até o momento, não nos sentimos representados por mais que tenha evoluído. Há poucos dias estávamos discutindo, nas redes sociais, se o programa “Esquenta”, da Regina Casé, era racista por usar o estereótipo do negro que adora sambar, cantar enfim, “ferver”. Consultando sua produção, o que me informaram que a apresentadora, Regina Casé, queria um programa que mostrasse a periferia, discutisse assuntos mais sérios, como o preconceito, que levasse políticos, sociólogos e histórias de sucessos dos temas abordados, como ela resumi bem: “tudo junto e misturado”, além do programa ter a “Cara da Regina”, que é uma pessoa de mil ideias e projetos. O Esquenta, para Rede Globo, tem uma boa audiência, bons patrocinadores e todos da equipe estão felizes com isso, o resto é o resto.
É assim que tudo acontece, hoje com muitas emissoras demitindo, quem tem o seu garantido, se dá por feliz. Ao frequentar esse meio, vejo que as pessoas estão preocupadas com o próprio umbigo e não pela representatividade do trabalho que elas fazem para a população.
MÍDIAS SOCIAIS
Hoje com as mídias sociais nada passa despercebido e basta um ver para que o resto siga e comente. Outro caso, bem discutido, foi à novela das 21h, da Rede Globo, do Walcyr Carrasco, que virou destaque por não ter na trama, nenhum ator negro,  vi que existe uma atriz negra jovem que trabalha no hospital, mas aparece super pouco. Mas com tanto barulho a emissora já anunciou que uma médica entrará. O autor falou sobre o assunto e disse: “não foi intencional, mas quando criamos personagens, muitas vezes estamos pensando em um determinado ator ou atriz, independente de raça, mas a prioridade se ele se identifica com o personagem”. Bom, isso me faz pensar que durante sua criação, ele nunca pensa em atores negros para seus personagens. Como já sabemos sempre escolher os “amigos”, mais próximos.
Toda essa história, me fez procurar  por diretores negros e por mais interessante – e para alguns “bizzaro” – a  Rede Globo, tem um em seu casting, Luiz Antonio Pilar, que atua como diretor desde 1999. No seu currículo têm projetos como “Sinhá Moça”, “Big Brother 7”, “Desejo Proibido”, um filme,“Em Quadros”, que conta sobre a vida televisiva e teatral de Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Zezé Mota e Iléia Garcia, além de diversos projetos para o teatro. Mais em uma das suas aparições, no IV Seminário de Inserção e Realidade, que destacou o tema: “O negro e a artes cênicas”, Luiz Antonio, declarou que “a Globo não sabe o que o que fazer com o negro”, sendo a maior emissora do Brasil, possui o maior número de profissionais negros a sua disposição –  e por mais que criticamos -, ainda é a emissora que mais trabalha com negros no país em todos os níveis, nem as emissoras públicas existem profissionais negros como dentro da famosa, criticada Rede Globo.
Precisamos ajudar a Globo a produzir projetos que represente, não apenas os negros brasileiros, mas a diversidade que temos. Por mais que tenhamos leis, na televisão elas não são aplicadas, sobre a alegação que o trabalho é “artístico”.  Precisamos agora, buscar alternativas para que sejamos melhores representados na mídia.
Pode me perguntar por que só se fala da Rede Globo no texto? Respondo. Porque as pessoas só comentam o que essa emissora faz e por ser a única com um volume de novelas e programas que atingem o Brasil como um todo. Para falarmos das demais, isso fica para um próximo texto.
Por Rosário Medeiros para as Blogueiras Negras
*Rosário Medeiros, jornalista, formada pela PUC-SP, trabalha com moda, beleza e eventos.