quarta-feira, 16 de março de 2011

Biologia, Evolução e a Questão Racial

Evolução: A formação das Raças Humanas

     Looms (1977) explica a formação das raças branca, parda e amarela na espécie humana como um produto da seleção natural em que o agente seletivo seria a vitamina D. A vitamina D interfere na absorção do cálcio pelo intestino e na deposição de substâncias nos ossos em crescimento. A vitamina D é produzida na pele por transformação do dehidrocolesterol pelos raios ultravioletas de comprimento de onda de 290 a 320 milimicrons. Quantidades inferiores a 400 unidades internacionais (UI) de vitamina D levam pessoas ao raquitismo e quantidades superiores a 100.000 UI produzem hipervitaminose D, cujos efeitos seriam: calcificação múltipla dos tecidos, pedras nos rins ou mesmo a morte. Uma UI corresponde a aproximadamente 0.25 g de vitamina D.
     Looms (1967) explica que a taxa de vitamina D no estrato granuloso da pele é regulada pelo processo de pigmentação e queratinização do estrato córneo, que permite somente adequada quantidade de ultravioleta solar penetrar a camada externa da pele e alcançar a região onde a vitamina D é sintetizada. Assim, as peles negra (pigmentada), amarela (queratinizada), parda (razoavelmente pigmentada e queratinizada) representam adaptações no estrato córneo que facilitam a penetração na pele de raios ultravioletas nas latitudes norte e a dificultam na região equatorial de maneira a manter a vitamina D dentro dos limites fisiológicos na espécie humana. Um negro tendo 22.500 cm² de pele, sintetiza, durante um dia tropical de 40.000 a 90.000 UI. Já a carinha de uma criança norueguesa bem loira é suficiente para sintetizar 400 UI, em menos de 3 horas de sol.
     Tendo o Homo evoluído nos trópicos, seus indivíduos mais antigos deveriam ter sido negros e peludos (acredita-se que a adequada pigmentação permitiu a perda dos pêlos). Conforme migraram para o norte, deixando a região tropical, os menos pigmentados tiveram vantagens adaptativas. Ainda, mais para o norte, as crianças mais pigmentadas sofriam mais frequentemente de anormalidades ósseas, tornando-se incapazes de procurar seu próprio alimento e sobreviver. Murray (1934) diz que à medida em que o homem caminho para o norte, que possui regiões menos ensolaradas, uma doença - o raquitismo - acarretou a morte dos elementos da população que fossem mais pigmetados, o que deu a oportunidade para que indivíduos menos pigmentados pudessem se reproduzir, deixando descendentes cada vez menos pigmentados. Acredita-se, portanto, que a ocupação da Escandinávia e do Círculo Polar Ártico ocorreu após a seleção para cor da pele na espécie humana.
     A única exceção à correlação entre a latitude e a pigmentação da pele são nos esquimós. Não obstante sua pele ser pigmentada, não sofrem com altas taxas de raquitismo. Murray atribui isto à dieta rica em óleo de peixe e carne, que são alimentos ricos em vitamina D, tornando desnecessária a seleção para pele despigmentada.
     A pele pigmentada absorve mais calor que a pele não pigmentada. Um Yoroba africano reflete, por exemplo 24% da luz incidente enquanto um europeu, 64%. Com base nesses dados podia-se esperar que indivíduos pigmentados teriam vantagens em ambientes mais frios que indivíduos menos pigmentados. Entretanto, a seleção para ajuste nas taxas de vitamina D foi muito mais efetiva que a seleção para manutenção do calor corporal.
     O avanço da Biologia Molecular permitiu o desenvolvimento de técnicas para comparação de sequenciamento de aminoácidos no DNA de seres humanos de diversos grupos étnicos. O que estes testes apontam é que muitas vezes as diferenças genotípicas são mais acentuadas entre indivíduos de uma mesma raça do que entre indivíduos de raças diferentes. Conclui-se, portanto, que não há como separar geneticamente, mas apenas fenotipicamente grupos de indivíduos tomando a raça como fator.
     Existe, no entanto, um sentindo evolutivo para a existência de diferentes fenótipos na espécie humana. Geneticamente, pertencemos todos a uma mesma espécie, indistitamente. Qualquer tipo de categorização quanto ao estágio evolutivo dos diferentes grupos raciais não tem respaldo algum na biologia evolutiva, pois todos os organismos hoje vivos em nosso planeta, de uma simples bactéria ao Homo sapiens sapiens, representam o ápice bem sucedido de seu processo evolutivo. A existência de muitas raças ou variedades numa mesma espécie favorece a sobrevivência de todo o grupo, ou seja, de cada uma delas, pois a diversificação fenotípica resulta em variabilidade, sem a qual a seleção natural e o potencial adaptativo não poderiam operar.
     Quanta injustiça e sofrimento temos visto, ao longo da história da humanidade, por causa de uma simples vitamina! Quanto ódio, crueldade e preconceito parte da humanidade experimentou por causa da ignorância! Que cada um de nós possa testemunhar a verdade acerca do valor de cada ser humano, independente de sua aparência e do grau de pigmentação de sua pele. Que possamos olhar para as nossas diferenças fenotípicas aprendendo a admirar a grandeza do processo seletivo, capaz de criar tantos e tão belos modelos de seres vivos, que nunca deixarão de se transformar!

Referências
LOOMS, W. F. 1967. Skin-pigment-regulation of vitamin D biosynthesis in man. Science: 157(3788):501-506
MURRAY, F. G. 1934. Evolução, raça e cultura. Amer. Antropol. 36:438

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