Músicos baianos se inspiram em ritmos, versos e toques do candomblé para lançar novos discos e shows
O canto dos santos / Credito: Jamile Amine -
Embora de gerações e estilos diferentes, os músicos baianos Gabi Guedes e Tiganá Santana vêm recriando, de maneira bem original, o “universo ancestral” das influências afro-brasileiras. Sem perderem de vista a reverência aos seus orixás, preparam-se para lançar nos próximos meses shows e discos mostrando suas experiências musicais imersas no candomblé.
Depois de trabalhar com muitos músicos no Brasil e no exterior, incluindo uma temporada de nove anos com a banda de Jimmy Cliff, Gabi, de 51 anos, agora divide a percussão na Orkestra Rumpilezz – comandada pelo maestro Letieres Leite desde 2006 – com um projeto mais autoral, o Pradarrum. A ideia é promover shows eworkshops, mesclando os ritmos tradicionais do candomblé aos da salsa, do jazz, do funk e do afrobeat. No final de março aconteceram os primeiros eventos em Salvador e outras cidades baianas. O próximo passo é a finalização do disco. “Quero mostrar essas possibilidades de fusão, o lado musical da religião, mas sem agredir ou revelar seus fundamentos”, assinala Gabi Guedes, alabê, ou tocador de atabaque, que no início dos anos 1970 já integrava a “orquestra” do famoso candomblé de Mãe Menininha do Gantois.
Filho de uma das fundadoras do movimento negro na Bahia e especialista nas histórias da África, Tiganá Santana, de 29 anos, também se mostra bem zeloso com os segredos do candomblé. Ele ainda critica a “ferina carnavalização” de seus cânticos nas ruas e nos palcos da Bahia. “Se os afoxés da primeira metade do século XX seguiam uma direção a partir de uma inscrição religiosa, ou mesmo quilombola, pessoas e agremiações mais contemporâneas parecem trilhar um caminho com outras prioridades e compromissos”, aponta. De suas experiências existenciais e religiosas (no terreiro Tumbenci, é o responsável pelos cânticos e toques), nasceram composições em diferentes línguas africanas, como o kicongo, o kibumbo e o iorubá. E melodias com “sofisticação e elegância afro-brasileira”, na avaliação do percussionista Naná Vasconcelos. Tudo isso, que já estava em Maçalê (1999), seu primeiro disco, poderá ser conferido no CD The invention of colour, prestes a chegar ao mercado brasileiro, e na turnê “Águas e Florestas – A música de Tiganá Santana” que, a partir de julho, passará por São Paulo e Bahia.
Essas aproximações não são novidade na Bahia. Nos anos 1970, os caminhos já haviam sido abertos por Mateus Aleluia (ainda em atividade) e seu grupo Tincoãs. Em tempos mais recentes, Letieres Leite e sua orquestra estão à frente do movimento. Talvez a originalidade da nova produção esteja na maior proximidade com o mundo das histórias, dos terreiros e dos ritmos africanos. “Por isso soa mais original e novo, porque são elementos da África, da Bahia, históricos, mas que não são decalques do que já existiu”, aposta o jornalista e editor Luciano Matos, que há mais de dez anos cobre o cenário musical baiano.
Escrito por: Juliana Barreto Farias
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